PROTEA-R: Ferramenta Clínica Estratégica para Avaliação de Crianças com TEA

O Sistema PROTEA-R, elaborado por Cleonice Alves Bosa e Jerusa Fumagalli de Salles e publicado pela Vetor Editora, foi desenvolvido para estruturar a avaliação de crianças (24 a 60 meses), especialmente aquelas não verbais, com suspeita de Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Visão Geral do PROTEA-R

O instrumento é composto por três eixos principais:

  1. Entrevista de Anamnese com os cuidadores – coleta detalhada do desenvolvimento, rotina, interação e primeiros sinais.
  2. Protocolo de Avaliação Comportamental (PROTEA-R-NV) – observação clínica estruturada em brincadeiras durante três sessões de aproximadamente 45 minutos cada, especialmente voltadas para crianças não verbais.
  3. Entrevista Devolutiva – devolução qualitativa à família com base em dados observacionais e anamnese.

Objetivos e Abordagem

O PROTEA-R tem o propósito de rastreamento de comportamentos associados ao TEA, identificando sinalizadores precoces e riscos de desenvolvimento, além de mapear potencialidades da criança para fundamentar o plano terapêutico. Seu protocolo de observação inclui 17 itens comportamentais, avaliando frequência e qualidade de manifestações sociocomunicativas, interações lúdicas e padrões repetitivos.

Fundamentação Teórica e Validade

Baseado na perspectiva sociopragmática — que entende o TEA na dimensão das interações sociais e da comunicação intencional (Tomasello, 2003) — o PROTEA-R foi construído com rigor metodológico: revisões de itens, análise por avaliadores independentes, estudos-piloto e validação clínica que apontam boa aplicabilidade, fidedignidade e relevância na avaliação.

Como Utilizar na Prática Clínica

1. Preparação do Ambiente e Materiais

  • Monte o kit de brinquedos conforme manual, adequado à faixa etária e questões não verbais, que favoreça jogos simbólicos, trocas e exploração sensorial.
  • Tenha à mão o manual de instruções, protocolos de registro para codificação e, idealmente, um gravador de vídeo, para revisão e intersubjetividade.

2. Sessões de Observação

  • Realize três sessões independentes, cada uma com duração de cerca de 45 minutos. Alternam-se momentos de brincadeira livre e semiestruturada, permitindo manifestações espontâneas e direcionadas.
  • Codifique cada um dos 17 itens em duas escalas: frequência e qualidade da manifestação, conforme manual de definição operacional.
  • Observador experiente avalia comportamentos como contato visual, resposta social, trocas comunicativas e gestos, bem como comportamentos repetitivos e padrões estereotipados.

3. Entrevista de Devolutiva

  • Com base na anamnese e observações, apresente aos pais ou cuidadores um relatório descritivo com:
    • Perfil individualizado — pontos fortes e áreas de risco.
    • Recomendações práticas e encaminhamentos (terapia ocupacional, fonoaudiologia, pedagógica).
    • Delineamento de um plano terapêutico alinhado ao diagnóstico diferenciado e objetivo do tratamento.

Vantagens do PROTEA-R na Clínica com TEA

  • Transdisciplinaridade: pode ser usado por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas, sob supervisão adequada.
  • Foco em crianças não verbais, que muitas ferramentas padronizadas não atendem adequadamente.
  • Ambiente natural e lúdico — respeita o desenvolvimento da criança e facilita observação de interações genuínas.
  • Relatórios robustos, embasados em evidências objetivas e interpretadas dentro de um quadro clínico.

Recomendações Operacionais

  • O profissional deve estar bem treinado, com formação teórico-pedagógica sobre as bases sociopragmáticas do instrumento e familiarizado com o manual de condutas.
  • Interpretação deve considerar o contexto da criança, sua cultura familiar e seus recursos de comunicação.
  • Em caso de resultados indicativos, o PROTEA-R deve ser complementado com avaliações neuropsicológicas, cognitivas e fonoaudiológicas para diagnóstico diferencial e plano terapêutico completo.

Conclusão

O PROTEA-R representa um instrumento clínico estratégico e eticamente fundamentado. Ele permite às equipes de saúde sistematizar a observação e interpretações em crianças pequenas, especialmente as não verbais, oferecendo dados bem estruturados para diagnóstico diferencial e intervenção precoce no TEA.

Ao implementá-lo na clínica, o profissional adota uma postura inovadora, centrada na criança como sujeito de direitos, usando ciência com sensibilidade clínica e profissionalismo. Esse é o tipo de tecnologia psicológica que alinha rigor técnico, empatia e foco em resultados significativos para o desenvolvimento infantil.