Jacob Burckhardt (1818-1897) considerava a beleza e a liberdade como os dois valores fundamentais da existência humana, e essa tentativa de estabelecer um vínculo entre eles permeia toda a sua obra, desde os textos teóricos sobre a História da Arte até as cartas escritas ao longo de quase 60 anos, que refletem uma impressionante coesão de pensamento. Defensor da moderação, esse historiador suíço de expressão alemã era pessimista em relação aos grandes fenômenos sociais de seu século, como a democracia de massa, o igualitarismo e o culto ao crescimento econômico e ao progresso. Nesse sentido, ele se filia à tradição do liberalismo aristocrático, compartilhada por pensadores como Edmund Burke, Alexis de Tocqueville e Ortega y Gasset.
As Cartas de Burckhardt, endereçadas a alguns dos mais importantes pensadores de sua época, como Friedrich Nietzsche, tratam entusiasticamente de temas que mobilizavam os debates intelectuais em diversas áreas, como arte, arquitetura, história, poesia, música e religião. Burckhardt colocava o indivíduo no centro de suas investigações, acreditando que grandes personalidades podem alterar o rumo de épocas inteiras. No entanto, ele também defendia a ideia de que as culturas amadurecem e entram em declínio, seguindo uma lógica natural. Essa visão o levava a rejeitar o otimismo do progresso histórico, em contraste com o sistema hegeliano, que via a História como a expressão da realização de um espírito absoluto.
A defesa de Burckhardt das verdadeiras e vigorosas raízes espirituais da liberdade e seu elogio à beleza continuam sendo temas relevantes nos dias de hoje. A seleção e edição das Cartas foi realizada por Alexander Dru, com introdução à edição brasileira por Luiz Costa Lima, e tradução por Renato Rezende.